Por trás de um "Imigrante" há várias histórias de Imigrações!
Talvez, por causa da minha participação no Fórum Gulbenkian Imigração (tratou-se de uma Conferência Internacional com o titulo - "Imigração: Oportunidade ou Ameaça?") sinto-me inspirado a escrever isto e, também, pelo desafio ou melhor pelo pedido do Agnelo Ramos (um conterrâneo) para eu escrever um artigo de opinião sobre imigração.
Talvez, possa-me considerar fruto das Emigração e Imigração. Emigração forçada dos Escravos da Costa Ocidental Africana e, dos primeiros habitantes Europeus, também forçados ou aliciados a povoarem o arquipélago de Cabo Verde. De facto sou fruto do cruzamento de povos. Quais? De que vaga? Qual origem? Quando? Porque? Como? Não sei responder ao certo. Eis uma questão que pode ser, investigada por Historiadores, Antropólogos, Sociólogos…
Também, e isso sei, sou fruto da vaga de emigrantes cabo-verdiano que saem na década de 60 do século XX para Angola, pois nasci em Luanda e aí vivi, os primeiros 10 anos da minha vida. Aí fui da OPA - Organização dos Pioneiros Angolanos e lembro-me de cantar o Hino Nacional, antes de regressar para casa depois de um dia de aula. Isso aconteceu entre 1978 e 1981, nos meus dois/três, primeiros anos de estudante.
Em 1982 "imigro" para Cabo Verde, num primeiro momento de 1 a 2 anos na Ilha do Fogo e, depois definitivamente para Praia - Ilha de Santiago. Como, os meus primeiros anos de estudante só serviram para aprender: Cantar o Hino Nacional de Angola e Marchar, sim marchar, nós da OPA, também marchávamos e até tínhamos um uniforme: calção azul-escuro e camisola azul. Bem, tive que desaprender isso tudo e, aprender a contar. Assim, era eu um menino de 10 anos na primeira classe (Escola Materna); aprendi também, a conhecer as cores, por exemplo, o vermelho foi o mais marcante… mas essa é outra história.
Arduamente, estudei até completar a 4.ª Classe, 1º e 2º anos do Ensino Básico Complementar. Depois é que conheci a Imigração Interna, pois com 15 anos, já tinha ultrapassado a idade limite para entrar no Liceu (Liceu Domingo Ramos) então magistralmente imigro para Nhagar - Santa Catarina - Assomada, aí faço o meu primeiro ano do Liceu e agora sim, regresso à Cidade da Praia para completar o nono ano. Estou novamente, como o mesmo problema de sempre, tenho super idade para continuar os Estudos, desde vez, para entrar no Ensino Complementar do Liceu, mas milagrosamente, a Directora do Liceu deferiu o meu pedido, contudo condicionado as disciplinas, onde havia vaga, mas sem antes ter que passar uma temporada, 2 meses em Santa Catarina. Em Cabo Verde milagres acontecem mas levam tempo!
Por uma unha negra consigo entrar no 12º ano ou Ano Zero - Ensino pré -Universitário, porque, estendem a idade de entrada para maiores de 21 anos, a minha idade! E, é assim que acaba a minha "Imigração" em Cabo Verde foram 12 anos; foram doze anos marcantes e cheios de sacrifício, porque, aí se vivia muito na base ou do princípio de que era necessário fazer-se sacrifícios aos “Deuses” para conseguir-se alguma coisa na vida! Isso foi terrível...
A minha Imigração Internacional, para outro continente, corre numa noite fria, ainda lembro-me da data: 13 de Outubro de 1993, éramos uma trintena de Estudante Cabo-verdiano aterrámos em Lisboa e, subitamente ficámos apenas meia dúzia no aeroporto à Espera que alguém da Embaixada Cabo-verdiana em Lisboa, felizmente apareceu alguém e levou-nos para uma Pensão, a Pensão Apolo, no Centro da Cidade.
Em Lisboa aprendo a marchar, marchar desta vez contra os canhões; tenho marchado contra os canhões à quase 14 anos; Que fiz nos meus últimos 13 anos de "imigrante"? Estudei, estudo e continuo a estudar, aprendi que estudar faz parte da minha vida. Aprendi a amar, amar faz parte da minha vida;Está na hora de me perguntar qual é o meu próximo destino!? Já que como cidadão do mundo em movimento não posso parar. Há muitos destinos não vale a pena enumera-los.
Concluindo: Como cidadão do mundo nunca sinto ou me senti como imigrante nem em Luanda nem em Cabo Verde, e também, nem em Lisboa, onde aliás fui completamente adoptado por uma família alfacinha.